domingo, 19 de setembro de 2010

Intensamente fugaz




‎"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." (Fernando Pessoa)

"Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro"...É essa é a música do Djavan, que não tem muito a ver com a história, só lembrei por causa do dia frio, como estava quando tudo começou, e o livro que deveria ter sido lido, ao invés de ficar colhendo pedaços de amor por ai.
Um sábado frio, gelado,e eu me aprontando pra ir ao cinema. Ligo o computador e ela espera o amigo chegar pra ir. De repente, uma luz flamejante laranja começa a piscar, é é o msn. Alguém a chama, um mocinho loiro do olho verde com quem ela começa uma conversa, mas só dá tempo de dar um "oi tudo bem". Tudo se passa e chega segunda a noite. O mesmo mocinho loiro estava lá e dando os cordiais cumprimentos de sempre, conversam rapidinho e cada um seguia sua vida. Na terça segue a conversa, agora com um pouco mais de fluídez...Já não eram mais dois estranhos, quando aquela luz laranja piscava, o coração batia em um compasso diferente.
Numa certa quarta feira,sozinha em casa,curtindo a solidão ao lado da felina, companheira de todas as horas, meio down, abre seu coração àquele íntimo desconhecido. Foi então o momento crucial,quando o acontecimento estava a ponto de mudar e transformar a monotonia do cotidiano comum em uma atmosfera inebriante, envolvente, desconcertante e angustiante.
Reclamava da solidão e da vontade de conhecê-lo, ele em um rompante, convida esta criatura sozinha pra encontrar-se com ele. Claro que a criatura nem pensou, disse um desejoso SIM e corre aprontar-se para um encontro inesperado. Sem saber quem era, como era, onde iria exatamente,procurou vestir-se elegantemente, para dar uma impressionada...afinal nunca se sabe quem se encontra pelo caminho!
Foi então que no horário combinado, o desconhecido fez-se conhecido, e ao lado do carro esperava a moça aqui chegar. Ele abre a porta do carro, como um cavalheiro de tempos remotos, e os dois partem rumo ao seu destino.
Ao chegar no restaurante os dois conversam, eles contam detalhes de suas vidas, quem são, o que gostam de fazer,tudo que podem dizer um ao outro em informações sobre si, para tentarem um primeiro reconhecimento. Na cabeça dela faz se a idéia, de que pelo garbo e elegância como o rapaz age, é um príncipe de um reinado distante, perdido no século XXI. Pra variar, sempre em rompantes de viagens imagnárias...
Os dois conversam, jantam, riem, e dão voltas pelo shopping. O antes distante rapaz, aproxima-se lentamente,seus braços envolvem a cintura da moça, diferentemente de alguns rapazes que chegam deixando aflorar desejos concupisciosos, este chegou sutilmente, pegando pela cintura de modo respeitoso, apenas conduzindo. Caminharam e sentaram-se à mesa para deliciarem uma sobremesa. Neste momento, mais próximos, ele pega sua mão, beija-a lentamente, dá um beijo no rosto, e só então um beijo nos lábios, que então abrem se e as bocas unidas, fazem tilintar sinos, aos ouvidos dela.
Ele sussurra ao seu ouvido, que queria fazer o tempo parar,para que os dois continuassem juntos, já que ele tem uma vida corrida, dezenas de afazeres e o encontro entre os dois é um singular momento, difícil de acontecer, em meio à sua tribulada agenda rotineira.
Na cabeça dela, o tempo já havia parado, quando os sinos tilintaram em seus ouvidos, o tempo passou a dimensionar-se de modo singular, e sua existência passou a ter um sentido colado na existência daquele, que surgiu em seu caminho, como um clarão em meio à escuridão.
Ela já não suportava a distância daquele que trouxe um novo rumor à sua vida. Ela acostumada a sofrer por amores platônicos, vê agora o sentimento florescer não na potencialidade, mas na realidade dos carícias, das palavras, dos encontros com aquele príncipe que surgiu em sua vida.
Alguns encontros aconteceram, cinema, jantar. Até que uma noite especial se deu. Inebriada ela já estava, mas alguns detalhes levaram-na à uma atmosfera em que Afrodite fez-se presente, e embalou os momentos correntes. Após um delicioso jantar, onde tudo lembrava aquele país em formato de bota, Afrodite rondando o casal, à luz de um luar, na sacada do prédio, ao som de U2 e Paralamas do Sucesso, as bocas unidas, os corpos flamejantes e aquela noite ficou marcada como o melhor dos pedaços provados. Naquele momento, com sabor de completude, mas o transcorrer dos fatos, mostrou que aquele era apenas mais um pedaço.
Outros encontros se fizeram, agora com escassez, com mais dificuldade. Aquele que surgiu como um trovão, agora aparecia como uma luz piscante, como de um grilo que tem sua luz escassa e que pula,distanciando-se aos poucos. De pulo em pulo, a luz escassa tornou-se nada.
A última esperança, num último possível encontro, se desfez assim como o primeiro. Tudo acabou-se sem explicação. Ficou na mente dela, todos os detalhes de cada momento vivido, junto daquele que a fez por um mês, pensar estar com um príncipe, não apenas por seus cabelos loiros e seus olhos cor de campos verdejantes, mas por sua maneira de tratá-la como uma princesa, como uma mulher fina, delicada e merecedora de afagos e atenção especiais, por seus gestos delicados, num abrir a porta, num ceder a passagem, num despertar com café da manhã em mãos, num toque da pele com carinho, numsegurar as mãos enquanto dirige, nos beijinhos dados enquanto o farol não abre.
Enfim, não ouve tempo pra que ela dissesse a ele todo o desejo que a consumia, não ouve tempo de dizer palavras vazias e frases feitas, comum aos relacionamentos amorosos. Tudo que se sentiu se fez real em gestos, em beijos e abraços. Palavras são jogadas ao vento, sentimentos vividos à flor da pele e sentidos com toda profundidade e sinceridade, fixam-se na mente de tal maneira que a saudade que traz, pelo curto espaço de tempo em que se deu o fim, ainda faz sentir as sensações da presença do que se encontra distante. Ainda dói a lembrança do que se foi, com o tempo a dor vira lembrança, nostalgia. Só Chronos, o deus do tempo pra ajudar a ferida fechar e a dor passar.O que fica? As lembranças de momentos felizes e agradáveis, a experiência de não se entregar sem saber se outro quer e vai saber cuidar do seu coração, e a certeza de que o tempo é fugaz, de que tudo passa, e que por isso cada momento tem que ser vivido como se fosse o ultimo, de maneira intensa, pra fazer de cada momento especial único e singular.

2 comentários:

  1. Ai amiga, só você mesmo para transformar tão bem uma narrativa que poderia ser muito da comum (mas que não é) em poesia. Saiba que compartilho das suas reflexões e também preciso aprender a cuidar do meu coração e não entregá-lo a peudo-príncipes por aí...
    Belo texto, sempre muito bem escrito, as always!
    =D

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  2. Oie amiga
    linda história para contar... para sempre!

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